sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

 Quando está frio posso lembrar o meu pai a dizer que uma forma de aquecermos os pés antes de irmos dormir era darmos uma volta a pé. Dei uma volta a pé com ele assim depois do jantar em Bragança. Jantámos num restaurante os cinco e depois regressámos ao hotel.


Eu

 Sou uma de três irmãs, a do meio.

Algumas vezes escutei a minha mãe comentar sobre como apesar de termos crescido com a mesma educação e condições, eramos tão diferentes.

Posso olhar para nós e ver as diferenças ou as semelhanças - como com a minha mãe, as nossas vozes.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

 Da mesma forma que algumas vezes cozinhar me fez sentir uma ligação à minha mãe e à minha avó, duas ou três vezes a regressar de cidade de trabalho, em tardes de sol, senti essa ligação e a presença do meu pai. Vinha pela A32, com pouco trânsito, rodeada por árvores e terra laranja. Quando era criança e no início da adolescência algumas vezes fui com o meu pai às chamadas. O meu pai, médico veterinário, ia tratar ou vacinar vacas, porcos ou cães. Terei ido com ele em tardes parecidas, em estradas e caminhos com terra laranja e ladeados por árvores.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Após a licenciatura e o inicio do estágio, passei um ano em Lisboa em formação. Fui primeiro com colegas, depois com os meus pais e por fim com a minha mãe, procurar um lugar onde ficar.

Com os meus pais fomos visitar um seu tio - casado com uma tia (Tia Maria?) irmão do avô. Ele arranjou o contacto de uma Residência, mas era muito exclusiva. Gostei de conhecer o tio. Ele tinha ido para Padre, mas optou pela vida secular e casou com a irmã do avô que era mais velha do que ele e com menos energia para sair connosco. Como o meu pai contara também me pareceu ser uma boa pessoa.

Com a minha mãe encontrámos primeiro uma senhora que alugava quartos na casa bastante vazia em que ficara, por lá residir com a inquilina inicial. Ela era empregada na casa, mas após a morte da senhora conseguiu ficar com o arrendamento. Também oferecia lavagem de roupa. Estava com um problema e ia ser operada. As pestanas cresciam-lhe para dentro e irritavam-lhe os olhos.

Depois conhecemos a D. Ema e foi lá que fiquei. Ela morava num apartamento na Estrada de Benfica, terceiro ou quarto andar, sem elevador. Passava por lá o Autocarro 48 acho, que vinha da Estação de Santa Apolónia. A estação de Metro era Sete Rios (no Inverno quando chovia formavam-se por lá "rios".À noite ouvia sons de animis diferentes do Jardim Zoológico. Se me cruzasse com alguém do prédio deveria dizer que era uma prima. Nunca ninguém me perguntou. A D. Ema gostava de trazer pacotinhos de açúcar dos Cafés quando lá ia lanchar. Às vezes faço o mesmo e penso nela.


 Quando o papá contava algum acontecimento ou história do passado utilizava às vezes a expressão:

"... de maneira que..."

Também perguntava: "sabia disto ?"

terça-feira, 19 de abril de 2022

 Aprendi a jogar damas aos seis anos a ouvir as explicações do meu pai à minha irmã mais velha

 Iamos a Argozelo no Verão, talvez também na Páscoa. No Verão havia muito calor e o cheiro a estevas.

Lembro-me de uma ida que seria pela Páscoa -  na fotografia na varanda estou com o meu kispo branco, teria talvez quinze anos. A nossa irmã mais nova tentou cativar um gato ou gata que andava por lá, mas acho que não conseguiu.

 A nossa avó Gracinda Luis dava-nos rosquilhas, medalhinhas religiosas e moedas quando iamos até Argozelo. Acho que chorava quando chegámos e abraçava o papa. O papa buzinava ao chegar, descarregava família e malas, trocava abraços e ia depois arranjar um lugar para arrumar o carro.


 O nosso avô paterno, Abdiel Vitor Lopes com dezoito ou dezanove anos esteve na 1ª Guerra Mundial. Levava ordens de bicicleta do comando para a frente.

 A nossa avó materna, Manuela da Conceição Andrade Coelho, depois de casada Beltran Pepe, nasceu e cresceu em Lisboa. Em criança brincou no Jardim da Estrela.

 Quando comecei o estágio de advocacia a minha mãe colocou-me um pouco de base para dar cor. Levei depois a embalagem para Lisboa e continua a ser o que uso de maquiagem, um pouco de base na zona do nariz e faces, para dar cor.

 Sou a segunda filha de três. Há anos fiz as contas e fiquei com a ideia que a minha irmã mais velha tinha dois anos, nove meses e vinte e um dia quando eu nasci e eu tinha dois anos, quatro meses e vinte e um dias quando nasceu a nossa irmã mais nova.

Nasci e fui baptizada em Lisboa.

Nos primeiros seis anos de vida vivi em Paços-de-Ferreira, nos seis anos seguintes, em Gondomar, e depois no Porto.

No Verão havia duas viagens habituais, a Lisboa, onde vivia a mãe da nossa mãe e a Argozelo onde viviam os pais do meu pai.

O meu avô materno morreu quando eu tinha seis meses. A avó materna passava mais tempo connosco e a certa altura passou mesmo a morar em Gondomar. Contava-nos histórias, fazia-nos cafuné para dormirmos a sesta, dáva-nos a sopa e xi-corações.

Num Natal em que veio com prendas deu-me a minha boneca especial, a Joaninha que passei a levar para todo o lado.

Sabia disto?
Não sabia disto, pois não? 

Frases do papá

quinta-feira, 31 de março de 2022

 Há tanto que gostaria de contar sobre o meu pai.

Desde a segurança que sentia quando andava com ele de mão dada. Eu sempre com as mãos frias, ele tinha-as quentes quando eu era criança, 

As nossas conversas enquanto eu crescia e me parecia certa a sua visão do mundo, um mundo duro e difícil, mas em que podiamos sobreviver seguindo talvez as suas cautelas e avisos.

Tenho a ideia de na casa em Gondomar (vivi lá dos meus seis aos doze anos) ter havido uma altura em que à noite nos contou histórias, como a da galinha dos ovos de ouro.

Lembro-me de uma noite em que estava doente, tão agoniada em que até pensei que ia morrer (mas era tão criança ou não estava assim tão mal para acreditar e receá-lo). Senti o coração a bater. Vi os meus pais meio preocupados, vomitei e fiquei melhor e o meu pai já o tinha previsto. Desde então que em princípio quando estou enjoada não fico com medo.

Aprendi a jogar damas com seis anos ao ouvi-lo a explicar as regras à minha irmã mais velha.

Sucessivamente fomos a sua companhia nas chamadas, e acho que também sucessivamente ele nos chamou a sua esperança. Por isso escolhi como a minha segunda cor preferida o verde (a seguir a ter escolhido o azul e antes de escolher o vermelho).

Quando era bem pequena ele foi para mim a pessoa mais importante do mundo. A minha mãe parecia-me mais séria e ocupada e mais próxima da minha irmã mais velha (mas depois enquanto crescia, fui-me aproximando mais dela).

Queriamos que tivesse orgulho em nós. Quando lhe falávamos de testes ou de notas já boas, ele dizia sempre que esperava mais para a próxima, um Muito Bom a seguir a um Bom, um Excelente a seguir a um Muito Bom. Mesmo se trouxessemos o Excelente não nos elogiava directamente. Fiquei admirada um dia em que o ouvi elogiar, não sei se às três, se só a minha irmã mais velha que não estava presente, a uns conhecidos.

TInha "repentes" de zanga que passavam depressa.

sábado, 18 de dezembro de 2021

 Sinto falta dos meus pais, todos os dias, nesta altura do Natal, noutras alturas, quando estou para baixo, quando algo me alegra. E depois também vem a saudade da minha avó de Lisboa, do avô que já não conheci porque morreu quando eu tinha seis meses, mas porque escutei tanto sobre ele, até parece que me lembro dele, dos avós de Argozelo, do João, de mim, de como fui com eles ou no tempo em que eles cá estavam.

Tenho pensado no que me liga aos meus pais, no antes e no depois. Com a minha mãe, o gostar de passear, de experimentar algo novo, a música, o comprar com desconto e qualidade, (I. terá dela o gostar de ter tudo limpo e arrumado, A. a arte de se arranjar e vestir, o gostar de todos os animais) no depois, o cozinhar.

Do meu pai, a visão do mundo - gostava das nossas conversas, às vezes quando estávamos a ir a ou a regressar de algum lado, embora me pareça que ele era mais pessimista, talvez por muito do que viveu, a nossa visão do mundo coincidiria ou o que ouvi dele influenciou-me a ver o mundo como ele o via. As explosões que ele tinha e eu tento não ter, mas o passar depois, não ficar a remoer. O reagir com tristeza e raiva, mas não depressão.