quinta-feira, 31 de março de 2022

 Há tanto que gostaria de contar sobre o meu pai.

Desde a segurança que sentia quando andava com ele de mão dada. Eu sempre com as mãos frias, ele tinha-as quentes quando eu era criança, 

As nossas conversas enquanto eu crescia e me parecia certa a sua visão do mundo, um mundo duro e difícil, mas em que podiamos sobreviver seguindo talvez as suas cautelas e avisos.

Tenho a ideia de na casa em Gondomar (vivi lá dos meus seis aos doze anos) ter havido uma altura em que à noite nos contou histórias, como a da galinha dos ovos de ouro.

Lembro-me de uma noite em que estava doente, tão agoniada em que até pensei que ia morrer (mas era tão criança ou não estava assim tão mal para acreditar e receá-lo). Senti o coração a bater. Vi os meus pais meio preocupados, vomitei e fiquei melhor e o meu pai já o tinha previsto. Desde então que em princípio quando estou enjoada não fico com medo.

Aprendi a jogar damas com seis anos ao ouvi-lo a explicar as regras à minha irmã mais velha.

Sucessivamente fomos a sua companhia nas chamadas, e acho que também sucessivamente ele nos chamou a sua esperança. Por isso escolhi como a minha segunda cor preferida o verde (a seguir a ter escolhido o azul e antes de escolher o vermelho).

Quando era bem pequena ele foi para mim a pessoa mais importante do mundo. A minha mãe parecia-me mais séria e ocupada e mais próxima da minha irmã mais velha (mas depois enquanto crescia, fui-me aproximando mais dela).

Queriamos que tivesse orgulho em nós. Quando lhe falávamos de testes ou de notas já boas, ele dizia sempre que esperava mais para a próxima, um Muito Bom a seguir a um Bom, um Excelente a seguir a um Muito Bom. Mesmo se trouxessemos o Excelente não nos elogiava directamente. Fiquei admirada um dia em que o ouvi elogiar, não sei se às três, se só a minha irmã mais velha que não estava presente, a uns conhecidos.

TInha "repentes" de zanga que passavam depressa.